Só a
é revolucionária
António Garcia Pereira
Morte aos Traidores:
a sabotagem de uma campanha
Hoje, com a distância dada pelo tempo e depois de ter sabido de uma série de informações, é para mim claro que todos os factos que irei de seguida referir com verdade, se encontram relacionados e possuíam o claro objectivo de sabotar a campanha de Lisboa do PCTP/MRPP às Legislativas de 2015. Ou seja, o suficiente para que o Partido não conseguisse eleger-me como Deputado, mas permitindo a manutenção da subvenção com um maior número de votos nas zonas fora do distrito de Lisboa.
O início do fim:
a campanha na Madeira
Em Março de 2015 teve lugar a campanha das legislativas na Madeira que decorreu sob a direcção directa, imediata e quotidiana de Arnaldo Matos. Porque é que é importante referir aqui as eleições da Madeira? Por duas razões:
Por um lado, com tal campanha foram feitos elevadíssimos gastos (que envolveram as deslocações e alojamento de duas brigadas de camaradas e várias edições do Programa Eleitoral) que esgotaram os recursos do PCTP/MRPP (ver texto intitulado “Os dinheiros do Partido”) e, por outro, porque estas eleições desgastaram completamente as mesmas pessoas que depois tiveram de participar na campanha de Lisboa.
Importa ainda referir que eu fui deslocado para a Madeira por determinação de Arnaldo Matos para, como membro do Comité Central e do Comité Permanente, substituir o Carlos Paisana por o mesmo Arnaldo Matos considerar que aquele estava a fazer um mau trabalho e que Luís Franco – inicialmente escolhido pelo Comité Central para tal tarefa – não reunia as condições para encabeçar e dirigir a dita campanha.
A pressão constante
Assim, em final de Julho, é compreensível que o Comité Central tenha decidido disponibilizar, de forma organizada, curtos períodos de férias de 3 a 5 dias aos seus membros, para descanso e preparação para as acções de campanha que iriam começar em Setembro, e também para estarem algum tempo com as suas famílias, já que na altura alguns de nós trabalhávamos a um ritmo verdadeiramente alucinante, das 7h00 da manhã até noite dentro, incluindo fins-de-semana.
Informei esta decisão a Arnaldo Matos que, na altura, nada me referiu em contrário. Mas logo no dia seguinte e para minha completa estupefacção, ele dirige ao Comité Central uma violenta interpelação por mail na qual proíbe essas idas de férias e exige que todas as listas de candidatura fossem apresentadas até 15/8, um Sábado, apesar de estar fixado o dia de 24/08/2015 como o limite do prazo legal para essa mesma apresentação. Com um esforço titânico, todas as listas foram apresentadas na sexta feira, 14/8. Note-se que o MRPP se candidatou a todos os círculos eleitorais, o que significa, entre candidatos efectivos e suplentes, bem mais de três centenas de pessoas!
Posteriormente, eu próprio e outros membros do Comité Central constatámos, estupefactos, que Arnaldo Matos, do mesmo passo que nos ordenava que não gozássemos férias e até “enxotássemos as mulheres para longe”, fora ele próprio de férias para o Hotel do Bussaco durante 15 dias, supostamente, e segundo informação entretanto dada pelo Carlos Paisana, a primeira semana para descansar, e a segunda para elaborar o programa eleitoral do PCTP/MRPP (tendo até sido reunidos materiais, tais como programas eleitorais de outras facções políticas, para esse efeito).
Ora, cumprida com pleno êxito a primeira e essencial tarefa, ou seja, apresentadas todas as listas a 14/8, eis que Arnaldo Matos impõe logo a seguir uma tarefa absolutamente gigantesca, que foi a da apresentação de todas as listas com os currículos de todos os candidatos no Luta Popular, a um ritmo que impôs que o PCTP/MRPP e a redacção do jornal não fizessem mais nada durante semanas e semanas a fio, vindo depois fazer duras críticas ao mesmo jornal por a redacção não estar a fazer reportagens e por não estarem a ser escritos novos textos para o Luta Popular online.
A publicação das ditas biografias era, por seu turno, alvo de outras tantas críticas sistemáticas, violentíssimas, diárias, sobre todas e cada uma delas, e exigindo ao mesmo tempo ao Luta Popular e ao Partido que se deitasse a mão a toda uma série de outras tarefas (ataques policiais a bairros populares, campanhas de pesca, acidentes de trabalho, etc., etc., etc.) não obstante o reduzido número de camaradas por que era constituída a redacção na altura.
Durante o curto período de férias (de 3 a 5 dias) que, depois da apresentação das listas, os membros do Comité Central, como eu próprio, fomos finalmente autorizados a ter, todos os dias foram enviados mails e mensagens para mim contendo críticas violentíssimas sobre o que se passara relativamente a várias e sucessivas questões, tais como a intervenção provocatória da polícia na Cova da Moura, a declaração do Professor Pinto da Costa de apoio à candidatura, a apresentação e a linha gráfica da primeira página do jornal, forçando-me a vir a Lisboa em todos e cada um desses menos de 4 dias de férias e, dessa forma, liquidando-as intencional e completamente.
A pressão era tal que, inclusive, entre final de Agosto e princípio de Setembro, numa altura em que todo o Partido está desprovido de meios de propaganda mas absolutamente embrenhado na elaboração das biografias dos candidatos, Arnaldo Matos ainda pretendeu que se organizasse também, e para um dos fins de semana da campanha (tendo chegado a estar previsto o Sábado dia 26/09), uma conferência das Mulheres candidatas, a qual envolveria uma logística e uns custos absolutamente insustentáveis e que representaria mais uma tarefa gigantesca em cima de forças já absolutamente exauridas. A dita conferência, pelas razões referidas, acabou por não avançar mas fica agora claro que se tratava de, assim que a candidatura estava a cumprir uma tarefa (que não de agitação e propaganda, cujos meios continuavam a faltar), logo se lhe apresentava outra.
E a dualidade de critérios ficou bem a claro: até 6 de Outubro, qualquer intervenção policial num bairro social, qualquer acção ou campanha de luta, qualquer acidente de trabalho que o Luta Popular não cobrisse justificava os ataques mais violentos e até insultuosos contra os seus membros e a sua direcção, o Comité Central, o Comité Permanente e o Secretário-Geral. Mas, depois de 6 de Outubro, desde que cumprisse a sua tarefa de dar à estampa os textos difamatórios e falsificadores, muitos desses acontecimentos já podiam ficar para trás. E não só esses como até datas importantes na História do PCTP/MRPP.
Ou seja, desde que se atacasse política, pessoal e profissionalmente o Garcia Pereira, já o Luta Popular podia até esquecer-se do 28 de Maio (data da prisão dos militantes e simpatizantes do MRPP pelo COPCON), do 18 de Julho (libertação dos presos) ou até do 12 de Outubro (data do assassinato do camarada Ribeiro Santos).
Elaboração do Programa
Acontece que o programa que era suposto ser elaborado por Arnaldo Matos, e do qual inclusive chegou a haver maquetes da capa (que seria de estrutura e dimensões semelhantes ao da Madeira, mas de cor vermelha), nunca nos foi entregue. Desde 08/08/2015 até aos primeiros dias da campanha, e sempre sem qualquer informação ou confirmação de que afinal ele não seria feito, nunca tal programa apareceu. E, assim, para evitar que o PCTP/MRPP continuasse na campanha sem um instrumento de propaganda, foi então elaborado o Manifesto Eleitoral, por mim, numa noite, e já depois de terem sido recebidas inúmeras queixas de militantes e simpatizantes pelo atraso do mesmo e por estarmos a entrar em plena campanha sem o instrumento central da mesma.
Morte aos Traidores
O manifesto eleitoral foi levado à apreciação de Arnaldo Matos, o qual, após mais alguns dias, lá o deixou seguir, mas definindo e indicando como palavra de ordem central, impondo-a em toda a campanha eleitoral, a conhecida expressão “Morte aos Traidores”. Como cabeça de lista por Lisboa, e encabeçando a candidatura nacional do PCTP/MRPP, dei, como entendi que me competia, a minha cara por tal palavra de ordem, independentemente das minhas percepções ou opiniões. Mas a verdade é que, numa campanha em que se procurava mobilizar o apoio de camadas populares mais amplas possíveis para as posições do Partido e unir todas as forças democráticas e patrióticas, a expressão “Morte aos Traidores” liquidou a campanha à partida, tal como depois fui constatando pelas diversas críticas que se lhe seguiram, tanto dentro como fora do PCTP/MRPP.
Começada a impressão dos manifestos, eis que o cabeça de lista de Braga – José Machado – e os camaradas da Madeira – na pessoa da Fernanda Calaça – manifestam a sua oposição à dita palavra de ordem. Comunicado isto a Arnaldo Matos, ele dá então instrução de que a propaganda para aqueles dois locais não contenha a palavra de ordem “Morte aos Traidores”, ficando assim o Partido com duas propagandas distintas. Logo depois, é a mandatária para a Juventude que manifesta também sérias reservas e oposição à palavra de ordem.
Então, sob a invocação dessas reservas, e tendo em conta as queixas apresentadas publicamente e referidas por órgãos da comunicação social e a iminente decisão da Comissão Nacional de Eleições sobre a eventual suspensão dos tempos de antena do PCTP/MRPP, Arnaldo Matos dá indicação, mandando por mail o texto da comunicação que haveria de ser feita, de que o Partido pare de distribuir os comunicados já impressos e que comunique publicamente a suspensão da mesma palavra, comunicação pública essa cuja responsabilidade, uma vez mais, me coube a mim, tendo-a feito em condições verdadeiramente indescritíveis aquando da acção na Covilhã na Universidade da Beira Interior, onde fui sucessiva e insistentemente confrontado pelas televisões, rádio e demais órgãos de imprensa.
Mail enviado por Arnaldo Matos com a resolução
que deveria ser assinada pelo Comité Permanente do Comité Central
Mas, logo a seguir, dá indicação de que afinal a propaganda já impressa com a palavra de ordem em causa fosse distribuída na mesma, situação que se manteve até ao final da campanha.
Resultado: ficaram nas ruas os grandes cartazes (outdoors) com a expressão “Morte aos Traidores” e a minha fotografia, cartazes esses que, após o final da campanha, foram os últimos a ser retirados, já largos meses depois, numa operação bem conveniente para quem já escrevia no Luta Popular artigos onde eu era apelidado de traidor e veio mais tarde precisamente referir e confirmar que tudo isto fora preparado com esse mesmo objectivo.
A ausência de material de campanha
O que se passou com os cartazes grandes, os chamados outdoors, e os pequenos, os mupis, consistiu na exigência de que fossem sempre enviados previamente para aprovação de Arnaldo Matos, que a foi dilatando sempre e sempre, durante dias e dias a fio, pelo que só muito tardiamente, e já com a campanha em pleno, é que foram finalmente afixados, e com a já referida expressão “Morte aos Traidores”.
O aniversário da fundação do Partido: 18/09/2015
Em plena campanha, ocorre a comemoração do 45º aniversário da fundação do PCTP/MRPP, a 18/9. Hoje, verifico como o Comité Central caiu numa autêntica armadilha que já se encontrava a ser minuciosamente preparada por Arnaldo Matos.
Antes de mais, importa referir que a natureza e o conteúdo do respectivo comício que, por indisponibilidade da sala da Voz do Operário, teve de ser marcado para 16/9, as respectivas palavras de ordem, a constituição da mesa, a determinação dos lugares dos oradores e o tempo de intervenção de cada um, tudo, mas rigorosamente tudo, foi decidido ao pormenor por Arnaldo Matos, inclusive com esquemas gráficos da sala e da própria mesa. E até a decoração, onde o partido despendeu, aliás, milhares e milhares de euros, não tendo mesmo assim sido cumpridas todas as suas exigências.
Na noite da sessão e após um gigantesco esforço de mobilização que acabou por levar à Voz do Operário bem mais de 300 entusiasmados militantes e simpatizantes do PCTP/MRPP, apoiantes da candidatura e elementos das massas, alguns dos presentes aperceberam-se de que havia várias pessoas a transmitir por telemóvel informações sobre o número de presentes.
Só bem mais tarde vim a saber e esclarecer que se estava ao telefone com Arnaldo Matos, que dizia que apenas compareceria se o número de pessoas fosse de x, e como estavam muito menos ele não iria aparecer nem discursar. Retirava-se então o seu nome da mesa e re-arranjavam-se os lugares. O número de pessoas a chegar aumentou, chegando ao número de pessoas até então exigido por Arnaldo Matos. Voltou-se a colocar o seu nome na mesa. Entra-se de novo em contacto com ele. Vem então a informação de que agora o número já não é de x mas de y. Voltam-se a tirar a sua cadeira e o seu nome da mesa. Mas continuam a chegar pessoas, designadamente as de mais longe de Lisboa.
Assim, e após, por duas vezes, ter sido transmitida e logo de seguida anulada a informação de que Arnaldo Matos viria ao comício, com a consequente e sucessiva colocação e retirada da respectiva cadeira e placa identificativa do mesmo, ele acabou exactamente por não ir ao comício.
Mais tarde, a explicação que chegaria ao Comité Central seria a de que, à hora marcada, 21h00, faltava ainda muita gente. Por acaso, ou talvez não, precisamente alguns dos seus actuais “seguidores”…
Ora, na Voz do Operário estiveram presentes mais de 300 assistentes e Arnaldo Matos já discursara em eventos do PCTP/MRPP não só com números bem inferiores (30, 40, 50 pessoas) como relativos a situações de menor importância. Afinal, comemorava-se nessa noite a criação do Partido de que ele próprio foi fundador.
Todavia, quando cerca de uma semana mais tarde foi a um jantar a Braga que ele próprio denominou de “verdadeira comemoração do 18 de Setembro”, e no qual estiveram não só pessoas do PCTP/MRPP como inclusivamente membros próximos do PCP e do BE, o atraso de cerca de 1h30 no início do mesmo ou o número reduzido de presentes já não teve nenhuma importância. E esse é o jantar onde o cabeça de lista de Braga – José Machado – também fez uma intervenção que esteve publicada no Luta Popular, mas que dele foi apagada, assim que o mesmo não apoiou por inteiro as posições de Arnaldo Matos referentes aos atentados ocorridos em Paris e reivindicados pelo Daesh.
E o Algarve?
Chegaram-me, sobretudo já após as eleições de 5 de Outubro e mesmo depois da minha demissão a 18/11/2015, diversas críticas de camaradas do Algarve que alegaram que eu tinha abandonado a campanha daquela zona, que não a tinha apoiado, que não tinha enviado a tempo os cartazes de campanha (agora já sabem porque não chegaram a tempo), etc.
Ora, importa, antes de mais, referir que em todas as candidaturas que encabecei, apesar de ser cabeça de lista da candidatura a Lisboa, fui a quase todo o País no sentido de procurar apoiar as candidaturas encabeçadas por outras pessoas do PCTP/MRPP. Nestas legislativas de 2015, não me foi possível ir a todos os sítios que quis por diversas razões, tendo várias delas sido já aqui apontadas.
Além disso, tinha sido definida pela Comissão da Campanha a orientação de procurar concentrar forças e acções no distrito onde, dado o maior número de mandatos, era mais possível a eleição de deputados, ou seja, Lisboa.
Apesar de tudo isto, importa esclarecer o seguinte: Eu tinha, efectivamente, na minha agenda de campanha, programado um dia de campanha no Algarve com os camaradas de lá. Depois de já estarem marcadas e convocadas diversas acções no mesmo Algarve (incluindo várias visitas e reuniões e uma sessão/debate na Universidade) para o único dia disponível na última semana de campanha, 3ª feira, 29/09, soube-se que iria haver nesse mesmo dia, em Lisboa, em frente ao IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, uma manifestação nacional dos habitantes dos bairros sociais de todo o País e onde estariam também presentes o camarada Teixeira, Presidente da Associação de Moradores de São Gonçalo – Guimarães e o camarada José Machado, cabeça de lista da candidatura do PCTP/MRPP por Braga.
Tratando-se de um protesto contra a subida de rendas e a política de abandono e prepotência praticada por aquele Instituto contra mais de 100 mil moradores em todo o País e essa era uma frente de luta considerada como muito importante e, aliás, por cuja falta de atenção e cobertura, Arnaldo Matos já criticara dura e continuamente o Luta Popular, a direcção da campanha, por instruções directas daquele, comunicou-me que, explicando-se aos camaradas do Algarve a razão para tal, eu não iria ao Algarve mas antes deveria estar presente na manifestação em causa onde, aliás, me encontrei com o próprio Arnaldo Matos.
E foi esta a única razão pela qual não estive com os camaradas do Algarve! Não porque não quisesse, não porque não achasse importante, mas porque Arnaldo Matos assim decidiu e a comissão da campanha, na fase em que nos encontrávamos, não conseguiu reorganizar a minha agenda por forma a poder ainda deslocar-me ao Algarve.
A pergunta “inocente”: “Estás sozinho?”
Muitas das vezes em que regressava do programa em que participava no ETV, recebia um telefonema de Arnaldo Matos, invariavelmente a elogiar-me pela minha prestação. A partir de uma certa altura, mais ou menos a partir de Julho de 2015, ele passa a começar o telefonema por perguntar-me se me encontro sozinho no carro. Quando a minha resposta era afirmativa, ele tecia elogios ao programa e ao que eu ali tinha defendido e à forma como o fizera, mas quando, pelo menos por duas vezes, referi que não me encontrava sozinho, ele logo me respondeu que então falávamos no dia seguinte…
Na altura não dei qualquer importância ao assunto, mas hoje não posso deixar de me questionar sobre qual seria o problema de alguém o ouvir elogiar as posições que eu defendia no programa, algumas das quais eram inclusive cuidadosamente preparadas com ele, no sentido em que lhe comentava o que pensava dizer e ouvia as suas críticas e sugestões.
O “apagamento” do cabeça-de-lista por Lisboa
Ainda durante a campanha, mais exactamente na já referida terça-feira 29/09, e por ordem de Arnaldo Matos, foram retiradas da primeira página e algum tempo depois pura e simplesmente eliminadas por completo das outras páginas do Luta Popular online todas as gravações das minhas intervenções públicas:
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intervenções no programa “Em Foco” do ETV (algumas das quais mereceram, por indicação de Arnaldo Matos, notas no Luta Popular, como a que elogiava a coragem da minha intervenção na denúncia da justiça criminal, do Procurador do Ministério Público Rosário Teixeira e do juiz de instrução Carlos Alexandre);
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as intervenções que fiz nos comícios de Felgueiras (onde estava previsto que fosse Arnaldo Matos e à última da hora não foi – ver texto “Visita à fábrica de sapatos Jóia e comício de Felgueiras”), de Marvila (onde Arnaldo Matos esteve presente e interveio) e na Voz do Operário (sobre o BES, tendo sido elogiado por Arnaldo Matos, que também esteve presente);
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intervenções minhas em várias outras realizações públicas (como as duas proferidas num colóquio da Covilhã onde a minha ida foi criticada por o mesmo ter uma natureza elogiosa de José Sócrates, mas que Arnaldo Matos reconhece, nas suas próprias palavras, como “brilhante” num texto da sua autoria publicado no Luta Popular com o título “Os Comunistas e o Movimento Cívico José Sócrates Sempre”);
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assim como diversos textos que escrevi, nomeadamente alguns que chegaram mesmo a ser indicados por Arnaldo Matos para fazerem parte dos documentos políticos do Partido e serem impressos e distribuídos pelas massas, sendo este apenas um exemplo:
Esse “apagamento” destinava-se e destinou-se, primeiro, a liquidar de vez qualquer hipótese de eleição de deputados no círculo de Lisboa e, depois, a permitir ao seu autor vir proferir barbaridades como a de que eu andara durante 3 anos no canal ETV a ensinar os capitalistas a pagar a dívida, quando fui sempre a única voz a defender clara e frontalmente o seu não pagamento e a saída de Portugal do Euro.
Isto ocorreu no dia da já referida manifestação dos moradores dos bairros sociais a 29/9/2015. Eu fui a essa manifestação e aí encontrei o camarada José Machado bem como Arnaldo Matos que me cumprimentou normal e até cordialmente, a quem acompanhei durante todo o tempo da manifestação, que esteve comigo à conversa com vários moradores dos bairros sociais e que me impulsionou, quando a Joana Amaral Dias começou a ser entrevistada pelos vários órgãos da comunicação social, a que, para além do depoimento para o jornal do PCTP/MRPP, o Luta Popular, procurasse também ser entrevistado por outro órgão da comunicação social, o que acabou mesmo por suceder com a TVI. Já para o final da manifestação, despediu-se de mim com aparente normalidade, tendo eu, pelo meu lado, seguido para o programa habitual das terças feiras do canal ETV, o “Em Foco”.
Quando regresso desse programa vou directamente para a sede do PCTP/MRPP, na Avenida do Brasil, onde me parece, apesar de ninguém me dizer nada, existir um ambiente estranho. Ao abrir o Luta Popular online verifico então que tinham sido retirados da primeira página do jornal toda e qualquer referência ao primeiro candidato por Lisboa, eu próprio. E mais! Que o vídeo de reportagem da dita manifestação tinha sido censurado de forma a eliminar a minha figura, a minha pessoa, a minha imagem desse mesmo vídeo, e que a entrevista que eu dera ao Luta Popular fora também igualmente apagada, mantendo-se no entanto a do José Machado.
Imagem original
Imagem editada a pedido de Arnaldo Matos
E tudo feito por ordem de Arnaldo Matos conforme confirmei na altura com a Directora e outros elementos do Luta Popular, que me chegaram a dizer que todos na redacção eram contra aquela ordem pois não entendiam como se podiam apagar as intervenções, discursos e artigos do cabeça de lista do único círculo onde tinhamos efectivamente hipótese de eleger algum deputado.
Ora, se fazer isto – e da forma como acabo de descrever – relativamente ao primeiro candidato pelo principal círculo eleitoral do país e aquele pelo qual havia mais possibilidades de se conseguir eleger um candidato, não é sabotar, e sabotar consciente, friamente e por completo essa possível eleição, então não sei como se há-de designar.
Divergências internas divulgadas no Luta Popular online
A duas semanas do dia das eleições, mais concretamente a 21/09/2015, Arnaldo Matos dá ordem para que seja publicada no Luta Popular uma carta do camarada Valentim com críticas à campanha eleitoral da candidatura do PCTP/MRPP pelo Porto, seguindo-se uma troca de correspondência entre ele e o João Pinto, responsável pela organização do PCTP/MRPP no Norte, com a consequente ordem de Arnaldo Matos para que fosse tomada posição sobre a situação por parte do Comité Central.
A coisa chegou a tal ponto que alguns órgãos da comunicação social começaram a noticiar que o MRPP estava a “lavar a roupa suja” em público e começaram a chegar críticas de vários militantes (inclusive de alguns, hoje, “seguidores” de Arnaldo Matos), por estarmos a publicar cartas que revelavam fraquezas organizacionais do PCTP/MRPP em altura de campanha e que essas mesmas questões deveriam ser discutidas internamente, e não trazidas para a praça pública.
Ora, na verdade, o Comité Central caiu (de novo) numa armadilha pois foi empurrado a lidar com uma questão que nunca deveria ter sido tornada pública, muito menos naquela altura crítica, e que, na verdade foi alimentada por Arnaldo Matos, como se pode verificar num mail de 28/09/2015 enviado pelo próprio ao camarada Valentim.
Especificamente, Arnaldo Matos diz neste mail ao Valentim para não aceitar a resposta do João Pinto, fazendo-lhe um rol de críticas e incentiva-o a tomar uma “posição clara sobre a matéria”, chegando mesmo a elaborar a resposta que o Valentim devia enviar para o Partido, resposta essa que foi, efectivamente, enviada e publicada no Luta Popular.
E num outro mail que Arnaldo Matos envia ao Valentim, a 30/09/2015, Arnaldo Matos deixa a nu o seu objectivo em ter alimentado aquela polémica publicamente:
Mail onde Arnaldo Matos revela o seu objectivo: “atacar e correr com o comité central”
O jantar de encerramento da campanha
Tão grave quanto o que antecede é o facto que, tal como infelizmente vim a saber mais tarde, relativamente ao jantar/sessão de encerramento da campanha, na noite de quinta-feira, 01/10, na casa do Alentejo, Arnaldo Matos não só não compareceu como desenvolveu diligências para que outros não comparecessem também, procurando assim esvaziar e transformar num fiasco a dita sessão de encerramento.
Prova disso, entre outras, é parte do mail que Arnaldo Matos envia ao camarada Valentim, a 30/09/2015 e onde deixa o seguinte apelo:
“Mas eu entendo que não deves em circunstância alguma estar presente no jantar de 5.ª feira em Lisboa, pois esse será o encontro da consagração dos traidores que estão no comité central. Deves dizer a toda a gente que eu me recusei a estar presente nesse comício, apesar de ter sido convidado, por que ele é organizado pelos traidores do comité central, com o bando do Garcia Pereira e do João Pinto à cabeça.
Deves telefonar aos teus amigos e dizer-lhes que não vais e que eu também não vou.”
Apesar de convidado a estar presente no jantar de encerramento e, obviamente, a usar da palavra, nunca Arnaldo Matos deu qualquer resposta directa e clara ao Comité Central. Nem sim, nem não e muito menos “não, porque…”.
Ao mesmo tempo que dava ordem de publicação no Luta Popular de um artigo seu a apelar ao voto no PCTP/MRPP (“Mobilizemos toda a gente – comunistas, democratas e patriotas – para votar no PCTP/MRPP. Pela independência nacional, pela autonomia económica, pelo emprego, pela recuperação dos salários e das reformas, pela igualdade social, pela saúde, pela escola pública, por um governo de unidade democrático e patriótico”), escrevia mails ao camarada Valentim e a outros, com orientações de sabotagem da campanha, revelando assim já qual era então o seu real objectivo – correr com os membros do Comité Central, e em especial com os membros do Comité Permanente.
Mas não todos. Já que Carlos Paisana e João Pinto, antes tão criticados por Arnaldo Matos, fazem hoje parte dos seus seguidores, acatando todas as suas ordens como já se viu. E se o João Pinto é profissional do PCTP/MRPP, não tendo qualquer outro rendimento, o Carlos Paisana não possui qualquer desculpa, aceitando inclusive desempenhar o papel de assinar textos que ele jamais escreveu e que sabe conterem completas falsidades.
O mesmo Carlos Paisana que Arnaldo Matos deu ordem para demitir da Direcção do Luta Popular, o mesmo Carlos Paisana que foi enviado para a Madeira e de lá retirado por ordem de Arnaldo Matos, o mesmo Carlos Paisana sobre quem Arnaldo Matos chegou a escrever que se tratava de “um indivíduo totalmente incompetente e incapaz, por razões ideológicas, políticas e pessoais, de dirigir o jornal do Partido, porque não é comunista, porque não conhece uma palavra do Marxismo e porque, no campo organizativo, é um liquidacionista encartado.”.
Importa igualmente referir que nesse mesmo jantar na Casa do Alentejo, várias e vários dos seus actuais apoiantes teceram publicamente violentas críticas a Arnaldo Matos, não apenas sobre a sua dupla ausência como também sobre a forma como tratava os camaradas. Que o “velho” devia estar “louco”, que dava hoje uma ordem para amanhã a contradizer, que insultava e apelidava de provocadores aqueles que cometiam simples falhas como a mera ausência de uma vírgula ou erros de digitação, ou porque um texto seu não tinha ainda sido publicado, ou porque Voz do Operário se encontrava escrito em itálico e não com aspas, etc. Críticas feitas publicamente por pessoas que hoje o seguem e que inclusive se prestaram a escrever para o Luta Popular a retractar-se do que tinham dito, e a pretender ser mentira aquilo que diversas outras pessoas ouviram naquela noite.
Mas, evidentemente, e como sempre tenho dito, a História nos julgará a todos e este tipo de condutas não deixará de merecer a devida apreciação.
Conclusão
Tudo o que antecede criou, de facto, condições profundamente negativas para uma eleição e para uma campanha que decorreu em condições inimagináveis. Mas mesmo assim, o PCTP/MRPP ter conseguido obter mais de 60 mil votos, mantendo a subvenção, apesar de tudo e sem escamotear os diversos e graves erros cometidos, foi obra!
Submissão?
As pessoas que me são próximas, apercebendo-se a posteriori de tudo o que se passou, perguntam-me essencialmente duas coisas: como foi possível que eu não me tivesse apercebido do que se andava a passar e o porquê da minha submissão às ordens de Arnaldo Matos, chegando mesmo alguns a usar a palavra “subserviência”… Pois bem, a resposta a ambas as perguntas é a mesma.
Por um lado, há que referir, tal como suponho que deixei claro no texto que escrevi sobre o porquê do meu silêncio (ver a página inicial deste site), que Arnaldo Matos representava para mim muito mais do que me é possível explicar em palavras. Era uma pessoa por quem eu nutria uma profunda Amizade, um imenso respeito, pela sua história, pela sua luta, era para mim um líder, um Pai. As suas ordens, mesmo quando as não compreendia, eram vistas por mim como vindas de alguém possuidor de um profundo conhecimento e de uma visão política que sempre se revelava como certeira. Aquilo que agora muitos vêem como submissão, eu via como respeito e sempre com a profunda convicção de que estava a agir bem e que as suas ideias, com o tempo, revelar-se-iam como sendo as mais correctas.
Foi por isso que quando Arnaldo Matos decide recomeçar a intervir de forma activa no Partido (após as eleições em que o PCTP/MRPP começou a receber a subvenção…), o seu regresso foi visto por todos os membros do Comité Central e, arrisco dizer, pela maioria dos militantes activos, com alegria e com o mesmo respeito que por ele tínhamos na altura em que era ele o Secretário-Geral. Situação sobre a qual, inclusive, o questionámos, tendo ele preferido permanecer numa postura de “conselheiro” e na posição, que ele próprio criou, de “Fundador” do Partido.
E por isso ignorávamos, ou colocávamos de lado, muitas das suas atitudes menos boas, os seus maus tratos a alguns camaradas, as suas violentas alterações de humor sobre alguma pessoa. Não percebemos na altura que todos aqueles que lhe manifestavam qualquer espécie de discordância eram de imediato apelidados de traidores, desertores e de quererem tratar da sua “vidinha”, expressão muito corrente que usava para designar todos aqueles que manifestavam não poderem desempenhar alguma tarefa do Partido por questões pessoais, tal como sucedeu com Luís Júdice e Rui Mateus, hoje, do seu lado, mas que foram alvo de violentas críticas por, invocando terem problemas pessoais intransponíveis, não darem ao PCTP/MRPP a dedicação e a disponibilidade que este lhes exigia quando, na verdade foi exactamente isso que Arnaldo Matos fez quando deixou o Partido nos anos 80.
Sim, porque ao contrário do que então e posteriormente foi referido, ou seja, que ele teria abandonado o PCTP/MRPP porque a contra-revolução tinha ganho, ele abandonou o Partido para, usando a sua expressão, “tratar da sua vida”, como ele próprio refere nesta entrevista dada em 2015:
Situação esta contra a qual não tenho, nem jamais referi qualquer objecção, mas quem assim decide sobre a sua própria vida não tem depois qualquer autoridade moral para acusar outros de terem também optado, em determinada altura, pelas suas vidas pessoais em detrimento do desempenho das tarefas do Partido ou de, simplesmente, não terem tido a disponibilidade de 24 horas por dia que Arnaldo Matos passou a entender que deveria ser dada (logo excomungando e apelidando, pelo menos, de “desertores” os que, por exemplo, relativamente à redacção do Luta Popular manifestaram não a poder ter).
Por outro lado, várias vezes, ao longo da minha vida, fui chamado à atenção pelos meus melhores Amigos, incluindo Arnaldo Matos, para a minha ingenuidade, um claro defeito principalmente para quem anda nestas lides da política há tantos anos como eu. E devo reconhecer com humildade que, efectivamente, o sou. E, hoje, creio firmemente que, se não fosse esta ingenuidade que me caracteriza e o elo fortíssimo de amizade e quase paternal que me ligava a Arnaldo Matos, teria vislumbrado a tempo o seu objectivo oculto, que até se foi tornando cada vez mais claro, mas do qual apenas me apercebi meses depois das eleições. Ou seja, o de boicotar as eleições o suficiente para que não fosse alcançado o objectivo da eleição de um deputado por Lisboa mas que conseguisse manter a subvenção estatal. Para isso, “bastaria” liquidar a campanha em Lisboa, elogiando e apoiando fortemente outras áreas do País, com Braga (então) à cabeça, mas onde não havia possibilidades reais de eleger deputados.
Assim, o resultado das eleições legislativas de 5 de Outubro de 2015 foi o melhor de todos para esta mesma operação – com uma diminuição do número de votos e a não eleição de qualquer deputado, em particular por Lisboa, tornava-se possível assacar a responsabilidade política pela derrota ao Comité Permamente do Comité Central, mas muito em particular, ao Garcia Pereira. E mantendo-se uma votação na ordem dos 60 mil votos, mantinha-se uma subvenção de mais de 14.200,00€ por mês.
Depois, com os meios assim alcançados, tratava-se, não de levar a cabo um amplo e aberto debate político e ideológico, como fora falado e prometido, sobre a situação do PCTP/MRPP, as suas tarefas e as responsabilidades dos marxistas-leninistas, mas sim de silenciar e afastar todos os que esboçassem a mais leve discordância, de assegurar e impor a minha expulsão, tratando de a justificar mediante a falsificação e a reescrita da História e curando de me destruir não só política, como pessoal e profissionalmente, recorrendo a todo o tipo de meios, mesmo os mais infames e soezes, para tal efeito.
Hoje sinto que é mais fácil de ver tal realidade. Mas, em qualquer caso, e apenas com factos, sem ataques pessoais nem homicídios de carácter, deixo a cada um de vós a correcta apreciação dos factos aqui apresentados e as conclusões que deles entendam dever extrair.
António Garcia Pereira
Maio de 2017